Cotidiano Cruel

Em um post anterior falei sobre o rap na tapera, mas não conseguir publicar porque não tive acesso a nenhuma dessas letras, mesmo porque elas nunca foram gravadas. Conversei com André, morador aqui do bairro que aceitou minha proposta de produzir uma música com uma de suas letras. Dé como é conhecido por aqui, me trouxe várias letras, pensamentos e críticas que já estavam entaladas na garganta prontas para desabafar mas não tinha uma oportunidade. Cotidiano Cruel foi a letra que ele gravou, retrata a realidade obscura da sociedade que vive manipulada pelo sistema, diz Dé.

Ouça agora a Música
Cotidiano Cruel - Mano Dé
 
Acompanhe na letra:

Tô na tapera, na barreira rimo a tragédia,
a 12 que desfigura e faz legista pedir as férias,
A cabeça encontrada sem corpo,
fui chutada pelos becos até cair no esgoto.

Sou sanguinário na rima prestei vestibular na firma.
não deram a chance de ser advogado ou dentista,
preferiram minha 9 entrando no posto,
fazem frentista mijar na calça vendo um gerente morto.

Agora sente o oitão que enquadra no sinal,
montado na XL que mete a fuga no pau,
eu vou de glock de 40 em busca do conforto,
pena que pra isso tem que deixar o playboy morto.

Um furo na testa na nunca um rombo,
o cerebelo esfarelou só sobrou os miolo,
eu ti falei pra não roubar, vandalismo não era,
quem suja a própria área amanhece na merda.

Eu tenho muitas armas que não servem pra matar,
mas trago a verdade que não quis escutar,
esse som feito aqui, direto da periferia,
compondo com amor a visão sem apologia.

Dei um teco da escama pra ficar ligado,
pra vigiar igual curuja o movimento dos carros,
o menor de atitude deu entrevista na televisão,
disse que puxou oitão e matou sem compaixão.

Que não se arrepende a vingança foi realizada,
quando caiu na calçada deu mais três tiros e cuspiu na cara.

Até a próxima!
Hudson Martins